sábado, 11 de dezembro de 2010

Alugando carro em Toronto (e outros lugares no Canadá)

Oi pessoal,

Achei pertinente colocar esse post, pois há várias opções para locação de carro em Toronto (e imagino que muitas estejam disponíveis em outros grandes centros urbanos do Canadá).  Muuuuita gente aqui não tem carro - quem mora e trabalha em downtown normalmente não tem, pois apesar do carro ser barato o custo de manutenção, seguro, estacionamento etc muitas vezes não compensa: o melhor é ir e voltar pro trabalho de metrô/ônibus/streetcar e alugar um carro quando precisar.

Na semana seguinte que tiramos nossa super carteira G, fomos convidados pra uma pizza na região de Richmond Hill, que fica a uns 35 kms daqui de casa.  O meu marido já tinha ido até lá de transporte público e, apesar de ser fácil, demora 1 hora e meia, é preciso pegar 2 metrôs e um ônibus intermunicipal - o que acaba encarecendo também.  Multiplique isso por 2 pessoas ida e volta e a preguiça de ficar esperando sabe-se lá quando tempo pelo ônibus (aos finais de semana a frequência é muito menor), fomos estrear nosso aluguel de carro.

Alugamos o carro por 1 dia na empresa Enterprise - dei muita sorte, pois conseguimos desconto através de uma amiga e o aluguel ficou apenas $20.99 pra 1 dia (o normal nessa empresa em downtown é $30, que acho bastante razoável).  Dei o cartão de crédito pra cobrir o seguro e lá fomos nós.  A coisa "tricky" dessa empresa é que cada loja abre em um horário diferente no final de semana - para evitar ter que pagar 2 diárias, precisei ir até a única loja de downtown que abre tanto sábado quanto domingo.  Não preciso nem dizer que foi ótimo ter ido de carro - ao invés de 1 hora e meia demoramos apenas 30 minutos, de lá ainda fomos no shopping Vaughn Mills (que é o outlet daqui e eu queria conhecer há tempos) e ainda passamos na Ikea (já carregamos muitas compras da Ikea de metrô e é um pesadelo).  No dia seguinte antes de devolver o carro, ainda fomos comprar a ração da Joy (foi a sorte, pois a loja aqui perto de casa estava sem a ração dela e ninguém merece ir buscar de metrô o pequeno saco de 7.5 Kgs da dita-cuja) e ir no supermercado - vocês não imaginam a alegria que foi ir ao supermercado de carro, ah como a gente valoriza as pequenas coisas da vida!  Aqui perto de casa temos 2 supermercados, mas são bastante simples (e baratos), mas acabam tendo pouca variedade de produtos - acabamos indo num Loblaws que fica a 5 minutos de carro, mas no way ir andando ou de metrô.

A Enterprise também tem uma promoção bárbara aos finais de semana - de 6a a 2a, alugue um carro por $9.99 por dia!  Isso mesmo, 9.99 por dia!  O "catch" aqui é que a promoção só é válida nas lojas de bairro (pegamos esse final de semana e fomos até depois do fim de Toronto buscar o carro) e estão incluídos 100 Km por dia (ou seja, não dá pra usar pra fazer uma super viagem, mas pra resolver pendências, ir na Ikea, no supermercado, buscar alguém no aeroporto ou apenas passear...).

Todas as grandes locadoras como Budget, Avis, Alamo etc estão presentes aqui - e aí o importante é acompanhar as promoções.  A Alamo até pouco tempo estava com uma promoção ótima para final de semana também, com kilometragem ilimitada.  Uma outra opção é uma chamada "Wheels4Rent", que aluga carros usados - o bom deles é que o preço é fixo, sempre o mesmo, é só entrar no site e olhar.

Dicas importantes ao alugar:
- Checar quantos kilometros se pode rodar sem pagar extra - às vezes as promoções têm limitação e as distâncias aqui podem ser grandes!
- Ver se eles cobram extra se a sua carteira é G2 (a Wheels4Rent cobra $5 a mais por dia)
- Ver se pode sair da província com o carro - algumas impõe essas limitações
- Checar se, ao sair da província, sua kilometragem muda (a Enterprise dá KMs ilimitados dentro da província ou 200Kms por dia se você cruzar pra outra - no caso de precisar de mais KMs, eles cobram $10 a mais por dia para dobrar essa kilometragem)
- Checar se é cobrado por motorista adicional.  A Enterprise não cobra se for cônjuge, a Alamo cobra $11 por dia, a Budget me cobrou ano passado quando viemos acho que $25 (eu não tinha perguntado sobre isso antes e dancei) - isso pode alterar completamente o seu budget
- Fazer sempre a reserva pela internet antes, pra garantir o valor
- Ver a distância da sua casa até a locadora e perguntar se eles podem te buscar (a Enterprise já veio me buscar em casa 2 vezes e para uma loja que fica no subúrbio, eles têm um shuttle até o metrô)

Um outro modelo de aluguel cada vez mais comum por aqui é o chamado carro compartilhado ou aluguel por hora.  As duas empresas que operam aqui em Toronto são a AutoShare e a Zipcar.  Funciona basicamente assim: você precisa se cadastrar (eles checam se seus documentos estão OK), pagar uma taxa, escolher o plano, fazer as reservas e sair usando.  As principais vantagens desse sistema é que o seguro e combustível já estão incluídos no preço e eles possuem várias localidades, principalmente downtown (temos dois carros da AutoShare dentro da garagem do nosso prédio), além da facilidade pois está tudo pré-aprovado, não tem que fazer ficha toda hora etc - e na AutoShare, o tempo que você for membro conta como histórico de seguro, assim você tem desconto se um dia precisar fazer seu próprio seguro.  Quando saiu nossa carteira G nós íamos fazer o plano do AutoShare, mas acabamos desistindo pois achamos que os "contras" não compensavam se comparados a uma locadora de carros comum - eles são principalmente o valor por hora (que é alto, se comparado ao valor por dia das locadoras comums) e o fato de que, se você atrasar pra devolver o carro, as multas são altíssimas ($20 dólares se for até 30 minutos, + $25 se você não avisar a empresa que vai atrasar, de 31 minutos a 1 hora, sobre pra $40) - achamos isso muito complicado pois Toronto é uma cidade com trânsito pesado sim, principalmente na hora do rush nas highways e se estiver nevando por exemplo.  Aí fizemos as contas e percebemos que para estarmos "safe", teríamos sempre que alugar o carro por um período bem maior que o planejado e aí já valeria à pena ir numa locadora normal alugar por 24hs e pronto.  A, outro ponto negativo (que seria a principal vantagem do sistema, mas não é), é que você é obrigado a devolver o carro onde pegou, não dá pra pegar um no prédio, devolver em outro ponto, fazer sua reunião, e pegar outro pra ir pra casa - os carros precisam ser devolvidos onde foram retirados e justamente aí você é obrigado a reservar por mais tempo.  Vejo muita gente usando o sistema aqui (tanto AutoShare quanto Zipcar) e a conta que o pessoal faz é comparando aos custos de manter um carro, não a minha conta comparando com o aluguel de uma locadora comum.

Pra quem se interessar, abaixo uma tabelinha com vários valores direto do site da AutoShare.  Ah, e a AutoShare exige que sua carteira seja G full (ou seja, se você conseguiu apenas a G2 não consegue ser membro - parece que a Zipcar aceita).


Cada caso é um caso, vai de cada um avaliar o que vale mais à pena.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

E aí, valeu à pena pagar excesso de bagagem pra trazer toda a bugiganga de vocês?

Nas últimas semanas vi uns dois ou três posts em blogs de pessoas que ainda não vieram se perguntando se vale à pena pagar transportadora, excesso de bagagem, trazer tudo, não trazer nada etc.  Pra quem acompanha o blog há mais tempo, deve se lembrar que nós viemos com 9 caixas além das 4 malas normais (dêem uma olhada aqui).

A resposta é: valeu sim à pena!  Nós viemos de United e a empresa cobra apenas US$100 de excesso de bagagem por cada volume de 32Kg.  A idéia inicial era trazer apenas 1 caixa a mais cada um, mas conforme eu e minha mãe fomos arrumando as coisas fomos vendo que simplesmente não teríamos onde deixar tudo.  Quem me convenceu a fazer isso foi meu marido, com o seguinte raciocíno - se deixássemos as caixas no Brasil para cada um que fosse visitar trazer, teríamos que pagar um táxi extra pra pessoa ir pro aeroporto pq não caberia a caixa + malas + pessoas num táxi só (só aí no mínimo R$80).  E quando a gente fosse bucar essas pessoas no aeroporto de Toronto, não iria caber todo mundo no carro e teríamos que pagar mais CAD 45 pra um táxi extra - só aí já pagou as 100 doletas de trazermos as coisas com a gente.

E tem também um outro lado: ter as suas coisas com você faz com que a sua  nova casa tenha mais jeito de "casa", pois tem objetos de valor sentimental.  Além disso, se você deixar por exemplo um balde de gelo na sua caixa pra um dia alguém trazer, antes de um parente vir visitar você vai precisar de um balde de gelo e vai acabar comprando um aqui e ficando com dois no total (é só um exemplo, eu vendi meu balde de gelo e ainda não comprei outro - apesar de já ter precisado de um).  Nossos cumpadres quando vieram pra cá não sabiam quanto tempo iam ficar e deixaram tudo num storage - no final, acabaram comprando tudo novo aqui e depois de morrer com um dinheirão de storage no Brasil acabaram dando/doando pra um amigo que vai pagar um dia (e estão super felizes de não terem mais que pagar o raio do storage).

As coisas que acho que mais valeram à pena trazer:
- Faqueiro Tramontina: tínhamos 2 faqueiros, um mais chique e um do dia-a-dia bárbaro da Tramontina.  O chique ficou no Brasil para vir um dia e o do dia-a-dia trouxemos.  Joguei fora a caixa de madeira e coloquei tudo numa caixinha minúscula de papelão - total 6kg por um faqueiro que custou quase 2 mil reais.  Claro que aqui há opções de talheres baratos, inclusive na própria Ikea, mas se você tiver um faqueiro bom traga, pois jamais vai conseguir vender por um valor bom no Brasil e por apenas 6Kg de excesso vale mais do que à pena.
- Jogo de travessas: de novo, presente de casamento que foi caríssimo.  Ainda não usei (nem usava muito no Brasil) mas jamais compraria outro aqui da mesma qualidade.
- Jogo de fondue: idem acima.  E ainda foi presente do meu irmão.
Tudo o que aparece na foto veio do Brasil
(menos a comida e as tulipas, claro!)
- Enfeites diversos: aí entram lembranças de viagem de todos os tipos (já viajamos muuuito), vaso de cristal, centro de mesa de vidro, centro de mesa de madeira... já está tudo "adornando" a nova casa, o vaso de cristal inclusive com flores frescas dentro pra dar "vida" pra casa no inverno.
- Enfeites de Natal: trouxe apenas os que tinham algum valor emocional e valeu muito à pena.  Nossa árvore está uma graça!
- Jogo de facas Tramontina, pazinhas de patê e coisinhas pequenas de cozinha: ocupam pouco espaço e se você não trouxer terá que comprar logo.  Jogo de facas tem de todos os preços, mas foi uma despesa a menos que tive ao chegar aqui e minhas facas vão durar a vida toda.  Se eu tivesse comprado um jogo minimamente decente aqui, teria sido no mínimo uns 50 dólares - como o jogo é pequeno, coube ele, a base de madeira e mais zilhões de coisas na caixa de 32Kg.
- Roupa de cama: nossa cama no Brasil era Queen com colchão bem alto (como as daqui).  Tinha comprado há relativamente pouco tempo 2 jogos de lençol que trouxemos.  Dá pra comprar aqui por uns $40 (muuuuito menos que paguei no Brasil), mas economizei $80 na chegada.  Trouxe também uma manta térmica que comprei há tempos, enfiei na Space Bag e pronto, não precisei comprar manta na chegada (depois precisamos de um edredon com a chegada do inverno).
- Roteador de internet: pesquisei em alguns fóruns pra ver se valia à pena.  Ele é pequenininho e item de 1a necessidade.  Nosso provedor é a Rogers, eles até têm modem com roteador embutido mas é mais caro.  Foi só pegarmos o modem baratex e pronto - ah, lembrando que precisei trazer adaptador de tomada, pois o plug é brasileiro (trouxe um filtro de linha com plug brasileiro e todos os adaptadores de tomada que encontrei na minha casa!).

Algumas coisas acabaram vindo que nem precisariam ter vindo num primeiro momento como livros, álbuns de fotos etc.  Mas aí valeu o raciocíno de que não valeria à pena deixar no BR pra depois gastar $ pra alguém trazer pra gente.

No total, deixamos umas 4 caixas de 32Kg mais alguns itens de decoração como a girafa que meu marido trouxe da África (só ela já é um volume de bagagem), o mapa-mundi etc.  Ainda não tivemos ninguém pra trazer as coisas (ainda bem, pois o apê é pequeno) mas ano que vem provavelmente meus pais vêm visitar e nós provavelmente passaremos Natal no Brasil, só aí já dá pra trazer bastante coisa.

Ah, vale lembrar que com o extremo cuidado que os carregadores de bagagem e os inspetores americanos lidaram com as caixas algumas coisas não sobreviveram a viagem (uma vaquinha de cerâmica linda, um vaso que meu marido fez na aula de cerâmica dele e mais algumas outras coisas).  Juro, na escala em Washington o inspetor de bagagem estava com a caixa na altura do peito e, como ela não entrava no raio-X, o cidadão simplesmente abriu os braços  e deixou a dita-cuja cair no chão de mais de um metro de altura - e eu vendo tudo isso, pois estava na salinha por causa da Joy.  Recomendação para itens muito frágeis: embale ao máximo, coloque em caixa de madeira (o vaso e o pote de vidro da foto por exemplo vieram dentro de caixas de madeira dentro das caixas de papelão, devidamente escorados por tudo que é tipo de acolchoamento).  Uma das caixas que sobraram tem um vaso de vidro lindo em tons de laranja que ficaria ótimo na minha sala agora - meu tio até estava no Brasil esse mês mas nem pedi pra ele trazer a caixa pois ele faria escala nos States - nesse caso, prefiro que alguém venha de Air Canada para pelo menos minimizar o risco do vaso chegar aqui em pedacinhos...  Independente disso, os americanos abriram praticamente todas as caixas (quando abrimos tinha o bilhetinho em quase todas), mas com extremo cuidado que praticamente não percebemos, só fomos saber mesmo na hora de ver o bilhetinho.  Uma das caixas inclusive chegou aberta no aeroporto de  Toronto (acabou arrebentando a fita adesiva que puseram) e a única coisa que dei falta foi um grampeador!

Só como informação, eu cheguei a cotar com 2 empresas de mudança trazer todas as caixas, girafa etc pra cá como carga e a reação foi  "é só isso que você tem?  Vale à pena pagar excesso de bagagem e pronto".  O custo para trazer como carga acaba sendo muito maior pois é preciso pagar várias taxas, despacho aduaneiro etc - só vale à pena mesmo pra quem vem com muita coisa.  Não preciso nem falar de novo que itens de casa como cama, sofá, móveis, eletroportáteis etc não vale à pena trazer - consegui comprar tudo novo por menos do que vendi meus itens usados no Brasil.

sábado, 4 de dezembro de 2010

1a experiência com o sistema de saúde canadense e remédios para sua farmacinha

Já faz mais de um mês, mas como é assunto de preocupação de 99.9% dos brasileiros candidatos a imigração, acho que vale à pena o post, mesmo que atrasado.  Vou ter que entrar em alguns detalhes do problema que tive, senão o post não vai fazer sentido - sorry pra quem não for tão fã de assuntos médicos.

Na última semana de outubro mais ou menos na 2a ou 3a feira comecei a sentir um ardorzinho ao urinar - que eu já conheço como a famosa infecção urinária, aqui conhecida como UTI (urinary tract infection).  Eu ao longo da vida já tive várias dessas (uma a cada 2 anos talvez) enão já sei como funciona, até por ser filha de médico.  Fiz uma consulta com papi por Skype que me recomendou tomar um antiinflamatório e aguardar (às vezes é alarme falso, já aconteceu comigo) - fora que UTI's precisam ser tratadas com antibióticos e não  é bom ficar tomando antibiótico à toa.

Passou 2a, 3a, 4a, 5a, 6a... e o incômodo aos poucos piorando, mas nada do outro mundo.  Na farmácia perguntei se não tinha Pyridium (pra quem não conhece, o único analgésico que age "lá" para alivar a dor ao urinar e o senhor falou que há alguns anos o produto tinha sido tirado do mercado - nem com receita, nem sem receita) - aff!!!!  Nós estamos aqui com visto de estudante então não temos direito ao OHIP propriamente dito, mas pagamos pelo "UHIP" (para estudantes estrangeiros), que tem cobertura igual ao do OHIP mas é pago e funciona como o convênio do Brasil - alguns (apenas alguns) hospitais são credenciados, outros hospitais, walk-in clinics, médicos de família etc tem que pagar e depois pedir reembolso - ou seja, motivo pra eu adiar ao máximo ir ao médico/hospital.  Quando chegou no sábado já estava me contorcendo de dor e na "consulta via Skype" meu pai falou pra eu ir de vez no hospital porque não tinha mais jeito, tinha que fazer o exame pra saber se era mesmo infecção e pegar a receita do antibiótico.  Aos sábados a maioria das walk-in clinics estão fechadas de qualquer maneira, então o único jeito numa emergência é ir pro hospital.

Esse dia foi dia da festinha de Halloween aqui no prédio, que eu não queria perder.  Antes falei com a minha tia que já mora aqui faz tempo e me falou de alguns hospitais e na festinha falei com a Rafaela do blog Projeto Racoon que mora aqui no prédio (morava, estão de mudança hoje pra Vancouver!) e ela me falou do St. Michael's Hospital que fica aqui em downtown mas que era cheio pois todo mundo que trabalha em downtown vai nesse hospital.  Como era sábado tarde da noite (e downtown está vazio nessa hora) e eu também não ia ficar que nem doida atrás de hospital, pegamos um táxi e fomos pra lá mesmo (uns 10 minutos daqui, nem isso).  Fomos munidos de livro, garrafa d'água, meu marido levou o computador pra fazer trabalho da faculdade, iPhone carregado etc, tudo para a espera que não sabíamos de quanto tempo ia ser.

Chegando lá já me sentaram direto na cabine da triagem com uma enfermeira que na hora coloca aquele aparelhinho no seu dedo que mede alguns sinais vitais.  Ela perguntou o que eu tinha etc etc, tentei exagerar um pouco pra ficar mais dramático e fazer cara de dor (não custa tentar, né?), nisso ela pediu pra eu aguardar.  1 minuto depois o rapaz da outra janelinha me chamou e pediu meu cartão de saúde - pra nossa sorte, o UHIP era aceito pelo hospital e não precisei por a mão no bolso o que foi ótimo, um problema a menos.  Pegou meus dados todos etc e  me deu uma pulseirinha e pediu pra eu aguardar.  Eu vi o tamanho da sala de espera e a quantidade de gente que tinha lá e não me pareceu muita gente não - de vez em quando entrava um estrupiado ou um velhinho de maca sendo trazido pelas ambulâncias que entravam direto - obviamente em um ER, caso grave passa na frente.  Tinha até uma senhorinha chinesa que precisava do filho pra traduzir, pois ela não falava inglês.  Todos os paramédicos super pacientes, com toda a atenção e eles precisavam ficar lá até os pacientes entrarem para tratamento efetivamente.

Esperei uma meia hora (ou até menos) e a enfermeira me chamou.  Falei de novo o que eu tinha e ela já me deu o copinho pro exame e falou um "you know the drill".  Fui ao toilette pra pegar a amostra e fiquei um pouco mal impressionada com o cheiro de urina do banheiro - sabe-se lá quando havia sido a última vez que alguém tinha passado um paninho por lá.   Enfim, o copinho não era tão "chique" como os copinhos do Delboni Auriemo em SP, mas dava pro gasto.  Entreguei minha amostra para a enfermeira e ela pediu pra eu esperar na sala de exame - sim, tive uma sala de exame só pra mim o tempo todo, com maca, poltrona etc etc.

Uma meia-hora depois apareceu um estudante de medicina com o resultado do meu exame - que só pela cor da amostra eu já sabia que era infecção mesmo.  Ele fez um exame clínico, apertou aqui e ali, perguntou se estava sentindo alguma dor na região dos rins etc e ele falou o que eu esperava - você tem uma UTI e vou te passar um antibiótico.  Eu pensei - beleza, era isso que eu queria mesmo.  Meu pai já tinha mandado avisar que eu não podia tomar Bactrim, que é muito receitado nesses casos - avisei o med student e ele prontamente mudou o antibiótico, pois era esse mesmo que ele ia me passar.  Só para esclarecer, o med student apesar de ter me visto sozinho voltou o tempo todo pra falar com o médico de plantão, que foi quem assinou a minha receita.  Na boa, pro meu caso que era bem simples, concordo que não faria sentido gastar "recurso" de um médico "inteiro" quando o estagiário resolvia.  Perguntei pra ele se eles não iriam fazer a cultura da amostra (pra quem não está familiarizado, nesses casos normalmente depois de identificada a infecção, faz-se uma cultura pra ver exatamente qual bichinho responsável por ela.  Os médicos em geral receitam antibióticos de amplo espectro assim que identificada a infecção, mas a cultura é importante pois se o 1o antibiótico não der certo, uns 2 dias depois sabe-se exatamente o bichinho e qual o antibiótico "matador").  Resposta dele - nesse caso não!  Enfim, depois perguntei pra enfermeira: e seu eu não melhorar?  Ela falou: volta aqui daqui a 3 dias!  Perguntei do Pyridium, o coitado do med student nunca tinha nem ouvido falar do princípio ativo do remédio.  Recomendação da enfermeira - se tiver dor, toma um Advil! - uhun, estou tomando há 5 dias e não faz nem cosquinha na dor, pensei.  Falei pro rapaz da farmácia que tenho certeza que foi um homem que tirou o Pyridium do mercado, pois mulher tem muito mais UTI que homem e o tal homem nunca teve dor ao urinar na vida!  O cara deu risada!

Dia seguinte, nova consulta com papi pelo Skype.  O médico me receitou Cipro por 3 dias - aí meu pai entrou no site com a bula do Cipro e viu que o recomendado para infecções urinárias é de 10 a 14 dias, não 3.  Como Cipro fazia parte da farmacinha que eu trouxe do Brasil, tomei os 3 dias que o médico daqui me passou e mais 7 do meu próprio estoque.  Felizmente depois dos 3 dias o remédio deu conta do bicho, pois a dor finalmente passou, mas enquanto isso fiquei me contorcendo de dor como nunca.  Cheguei a pensar "quanto eu daria por um Pyridium agora?  Uns 100 dólares..." e quase pedi pros meus pais colocarem uma caixa num envelope da FedEx - mas aí fiz a contas e até o remédio chegar a dor já teria passado (e foi o que aconteceu) e não ia adiantar mais.

Nessa história toda, descobri que minha tia e minha prima já tinham tido a mesma UTI aqui no Canadá e passaram pelo mesmo que eu e quase morreram de dor.  Minha tia já tinha pesquisado e nos States existe uma empresa que vende sem receita um teste (como se fosse de gravidez) para você ver se tem ou não a infecção (suficiente pra saber se precisa ir ao médico ou não pra pegar a receita do antibiótico) - além de tudo, eles têm também OTC (sem receita) um analgésico específico que contém o princípio ativo do Pyridium!  Cruzei a fronteira semana passada mas infelizmente na farmácia da cidadezinha onde eu fiz intercâmbio não tinha nem um, nem outro - já achei na Amazon americana, vou comprar lá e mandar entregar nos States pra pegar quando for pra lá passar o Natal.

O aprendizado dessa 1a experiência com o sistema de saúde canadense no meu caso foi - tenha sua farmacinha pronta!  Não estou aqui querendo incentivar a auto-medicação, mas pra quem tem acesso a médico como no meu caso, às vezes uma boa consulta por Skype e o antiinflamatório/antibiótico certo resolve o problema sem horas de espera em hospital ou clínica.  E a outra tirada, essa do meu pai, foi: a Joy tem melhor tratamento médico do que vocês (e tem mesmo, o veterinário dela até mandou e-mail pra perguntar como ela estava essa semana, pois tive que levá-la para vacinas e vômitos que ela tinha tido).

No caso da minha farmacinha, o que veio:
- Cipro 500 mg - 2 rodadas de 14 dias.  Antibiótico de amplo espectro, bastante potente.
- Amoxicilina 500mg - 2 rodadas de 14 dias.  Também antibiótico, mas para casos mais leves.
- Feldene (piroxican) - antiinflamatório que eu estou acostumada a usar (e já usei aqui)
- Quadriderm - pomada dermatológica para 4 (quadri) problemas
- Trofodermim - creme cicatrizante e antibiótico de ação local (já precisei usar)
- Estoque de anticoncepcional e outros remédios que estávamos usando na época da viagem.

O que vai vir (minha prima está indo pro Brasil, já está encarregada de trazer)
- Amplo estoque de Cipro (pra repor o usado e ter de back up)
- Repor um pouco do Piroxicam
- Talvez um Bactroban -  pomada antibiótica, custa caríssimo, mas vale cada centavo
- Mais uns meses de anticoncepcional, só pela preguiça de procurar um médico de família enquanto estivermos no UHIP
- ESTOQUE DE PYRIDIUM!!!!  Nunca senti tanta dor numa UTI na minha vida e não pretendo sentir de novo!

Só lembrando, desde a semana passada a ANVISA passou uma regulamentação que antibiótico só pode ser vendido com retenção de receita (aquela em 2 vias, com receituário do médico mesmo).  Pra quem ainda não veio, vale à pena falar com um médico na família pra ver se é o caso de trazer (até por que, não pode ir se auto-medicando, precisa de orientação médica).  Remédios simples como Tylenol, Aspirina, Advil etc são todos encontrados facilmente sem receita aqui - inclusive Voltaren emulgel (que é o Cataflan emulgel, outro dia li num blog uma pessoa recomendando trazer - a empresa dona usa nomes diferentes para o mesmo medicamento em países diferentes, já fiz um projeto pra eles).  E trazer remédios que estejam acostumados a tomar, até que haja tempo de encontrar médico etc etc.

No geral não achei a experiência "traumática" como muitos tiveram, mas não tem como não ser diferente do tratamento que se tem com médicos e laboratórios particulares no Brasil.  Fui muito bem atendida por todos no hospital, só não entendi porque da "economia" na hora de prescrever o remédio, já que quem pagou por ele fui eu.  Acho que a revolta maior no meu caso foi não existir o analgésico para esse caso aqui no Canadá, o que me fez passar dias me contorcendo de dor, sem conseguir dormir, por uma coisa simples.  Vi um pessoal do Facebook também reclamando horrores, pessoas que têm dores crônicas, todas sem o remédio e tentando de todo jeito conseguir (comprando via Amazon e coisa do gênero).