Na última semana de outubro mais ou menos na 2a ou 3a feira comecei a sentir um ardorzinho ao urinar - que eu já conheço como a famosa infecção urinária, aqui conhecida como UTI (urinary tract infection). Eu ao longo da vida já tive várias dessas (uma a cada 2 anos talvez) enão já sei como funciona, até por ser filha de médico. Fiz uma consulta com papi por Skype que me recomendou tomar um antiinflamatório e aguardar (às vezes é alarme falso, já aconteceu comigo) - fora que UTI's precisam ser tratadas com antibióticos e não é bom ficar tomando antibiótico à toa.
Passou 2a, 3a, 4a, 5a, 6a... e o incômodo aos poucos piorando, mas nada do outro mundo. Na farmácia perguntei se não tinha Pyridium (pra quem não conhece, o único analgésico que age "lá" para alivar a dor ao urinar e o senhor falou que há alguns anos o produto tinha sido tirado do mercado - nem com receita, nem sem receita) - aff!!!! Nós estamos aqui com visto de estudante então não temos direito ao OHIP propriamente dito, mas pagamos pelo "UHIP" (para estudantes estrangeiros), que tem cobertura igual ao do OHIP mas é pago e funciona como o convênio do Brasil - alguns (apenas alguns) hospitais são credenciados, outros hospitais, walk-in clinics, médicos de família etc tem que pagar e depois pedir reembolso - ou seja, motivo pra eu adiar ao máximo ir ao médico/hospital. Quando chegou no sábado já estava me contorcendo de dor e na "consulta via Skype" meu pai falou pra eu ir de vez no hospital porque não tinha mais jeito, tinha que fazer o exame pra saber se era mesmo infecção e pegar a receita do antibiótico. Aos sábados a maioria das walk-in clinics estão fechadas de qualquer maneira, então o único jeito numa emergência é ir pro hospital.
Esse dia foi dia da festinha de Halloween aqui no prédio, que eu não queria perder. Antes falei com a minha tia que já mora aqui faz tempo e me falou de alguns hospitais e na festinha falei com a Rafaela do blog Projeto Racoon que mora aqui no prédio (morava, estão de mudança hoje pra Vancouver!) e ela me falou do St. Michael's Hospital que fica aqui em downtown mas que era cheio pois todo mundo que trabalha em downtown vai nesse hospital. Como era sábado tarde da noite (e downtown está vazio nessa hora) e eu também não ia ficar que nem doida atrás de hospital, pegamos um táxi e fomos pra lá mesmo (uns 10 minutos daqui, nem isso). Fomos munidos de livro, garrafa d'água, meu marido levou o computador pra fazer trabalho da faculdade, iPhone carregado etc, tudo para a espera que não sabíamos de quanto tempo ia ser.
Chegando lá já me sentaram direto na cabine da triagem com uma enfermeira que na hora coloca aquele aparelhinho no seu dedo que mede alguns sinais vitais. Ela perguntou o que eu tinha etc etc, tentei exagerar um pouco pra ficar mais dramático e fazer cara de dor (não custa tentar, né?), nisso ela pediu pra eu aguardar. 1 minuto depois o rapaz da outra janelinha me chamou e pediu meu cartão de saúde - pra nossa sorte, o UHIP era aceito pelo hospital e não precisei por a mão no bolso o que foi ótimo, um problema a menos. Pegou meus dados todos etc e me deu uma pulseirinha e pediu pra eu aguardar. Eu vi o tamanho da sala de espera e a quantidade de gente que tinha lá e não me pareceu muita gente não - de vez em quando entrava um estrupiado ou um velhinho de maca sendo trazido pelas ambulâncias que entravam direto - obviamente em um ER, caso grave passa na frente. Tinha até uma senhorinha chinesa que precisava do filho pra traduzir, pois ela não falava inglês. Todos os paramédicos super pacientes, com toda a atenção e eles precisavam ficar lá até os pacientes entrarem para tratamento efetivamente.
Esperei uma meia hora (ou até menos) e a enfermeira me chamou. Falei de novo o que eu tinha e ela já me deu o copinho pro exame e falou um "you know the drill". Fui ao toilette pra pegar a amostra e fiquei um pouco mal impressionada com o cheiro de urina do banheiro - sabe-se lá quando havia sido a última vez que alguém tinha passado um paninho por lá. Enfim, o copinho não era tão "chique" como os copinhos do Delboni Auriemo em SP, mas dava pro gasto. Entreguei minha amostra para a enfermeira e ela pediu pra eu esperar na sala de exame - sim, tive uma sala de exame só pra mim o tempo todo, com maca, poltrona etc etc.
Uma meia-hora depois apareceu um estudante de medicina com o resultado do meu exame - que só pela cor da amostra eu já sabia que era infecção mesmo. Ele fez um exame clínico, apertou aqui e ali, perguntou se estava sentindo alguma dor na região dos rins etc e ele falou o que eu esperava - você tem uma UTI e vou te passar um antibiótico. Eu pensei - beleza, era isso que eu queria mesmo. Meu pai já tinha mandado avisar que eu não podia tomar Bactrim, que é muito receitado nesses casos - avisei o med student e ele prontamente mudou o antibiótico, pois era esse mesmo que ele ia me passar. Só para esclarecer, o med student apesar de ter me visto sozinho voltou o tempo todo pra falar com o médico de plantão, que foi quem assinou a minha receita. Na boa, pro meu caso que era bem simples, concordo que não faria sentido gastar "recurso" de um médico "inteiro" quando o estagiário resolvia. Perguntei pra ele se eles não iriam fazer a cultura da amostra (pra quem não está familiarizado, nesses casos normalmente depois de identificada a infecção, faz-se uma cultura pra ver exatamente qual bichinho responsável por ela. Os médicos em geral receitam antibióticos de amplo espectro assim que identificada a infecção, mas a cultura é importante pois se o 1o antibiótico não der certo, uns 2 dias depois sabe-se exatamente o bichinho e qual o antibiótico "matador"). Resposta dele - nesse caso não! Enfim, depois perguntei pra enfermeira: e seu eu não melhorar? Ela falou: volta aqui daqui a 3 dias! Perguntei do Pyridium, o coitado do med student nunca tinha nem ouvido falar do princípio ativo do remédio. Recomendação da enfermeira - se tiver dor, toma um Advil! - uhun, estou tomando há 5 dias e não faz nem cosquinha na dor, pensei. Falei pro rapaz da farmácia que tenho certeza que foi um homem que tirou o Pyridium do mercado, pois mulher tem muito mais UTI que homem e o tal homem nunca teve dor ao urinar na vida! O cara deu risada!
Dia seguinte, nova consulta com papi pelo Skype. O médico me receitou Cipro por 3 dias - aí meu pai entrou no site com a bula do Cipro e viu que o recomendado para infecções urinárias é de 10 a 14 dias, não 3. Como Cipro fazia parte da farmacinha que eu trouxe do Brasil, tomei os 3 dias que o médico daqui me passou e mais 7 do meu próprio estoque. Felizmente depois dos 3 dias o remédio deu conta do bicho, pois a dor finalmente passou, mas enquanto isso fiquei me contorcendo de dor como nunca. Cheguei a pensar "quanto eu daria por um Pyridium agora? Uns 100 dólares..." e quase pedi pros meus pais colocarem uma caixa num envelope da FedEx - mas aí fiz a contas e até o remédio chegar a dor já teria passado (e foi o que aconteceu) e não ia adiantar mais.
Nessa história toda, descobri que minha tia e minha prima já tinham tido a mesma UTI aqui no Canadá e passaram pelo mesmo que eu e quase morreram de dor. Minha tia já tinha pesquisado e nos States existe uma empresa que vende sem receita um teste (como se fosse de gravidez) para você ver se tem ou não a infecção (suficiente pra saber se precisa ir ao médico ou não pra pegar a receita do antibiótico) - além de tudo, eles têm também OTC (sem receita) um analgésico específico que contém o princípio ativo do Pyridium! Cruzei a fronteira semana passada mas infelizmente na farmácia da cidadezinha onde eu fiz intercâmbio não tinha nem um, nem outro - já achei na Amazon americana, vou comprar lá e mandar entregar nos States pra pegar quando for pra lá passar o Natal.
O aprendizado dessa 1a experiência com o sistema de saúde canadense no meu caso foi - tenha sua farmacinha pronta! Não estou aqui querendo incentivar a auto-medicação, mas pra quem tem acesso a médico como no meu caso, às vezes uma boa consulta por Skype e o antiinflamatório/antibiótico certo resolve o problema sem horas de espera em hospital ou clínica. E a outra tirada, essa do meu pai, foi: a Joy tem melhor tratamento médico do que vocês (e tem mesmo, o veterinário dela até mandou e-mail pra perguntar como ela estava essa semana, pois tive que levá-la para vacinas e vômitos que ela tinha tido).
No caso da minha farmacinha, o que veio:
- Cipro 500 mg - 2 rodadas de 14 dias. Antibiótico de amplo espectro, bastante potente.
- Amoxicilina 500mg - 2 rodadas de 14 dias. Também antibiótico, mas para casos mais leves.
- Feldene (piroxican) - antiinflamatório que eu estou acostumada a usar (e já usei aqui)
- Quadriderm - pomada dermatológica para 4 (quadri) problemas
- Trofodermim - creme cicatrizante e antibiótico de ação local (já precisei usar)
- Estoque de anticoncepcional e outros remédios que estávamos usando na época da viagem.
O que vai vir (minha prima está indo pro Brasil, já está encarregada de trazer)
- Amplo estoque de Cipro (pra repor o usado e ter de back up)
- Repor um pouco do Piroxicam
- Talvez um Bactroban - pomada antibiótica, custa caríssimo, mas vale cada centavo
- Mais uns meses de anticoncepcional, só pela preguiça de procurar um médico de família enquanto estivermos no UHIP
- ESTOQUE DE PYRIDIUM!!!! Nunca senti tanta dor numa UTI na minha vida e não pretendo sentir de novo!
Só lembrando, desde a semana passada a ANVISA passou uma regulamentação que antibiótico só pode ser vendido com retenção de receita (aquela em 2 vias, com receituário do médico mesmo). Pra quem ainda não veio, vale à pena falar com um médico na família pra ver se é o caso de trazer (até por que, não pode ir se auto-medicando, precisa de orientação médica). Remédios simples como Tylenol, Aspirina, Advil etc são todos encontrados facilmente sem receita aqui - inclusive Voltaren emulgel (que é o Cataflan emulgel, outro dia li num blog uma pessoa recomendando trazer - a empresa dona usa nomes diferentes para o mesmo medicamento em países diferentes, já fiz um projeto pra eles). E trazer remédios que estejam acostumados a tomar, até que haja tempo de encontrar médico etc etc.
No geral não achei a experiência "traumática" como muitos tiveram, mas não tem como não ser diferente do tratamento que se tem com médicos e laboratórios particulares no Brasil. Fui muito bem atendida por todos no hospital, só não entendi porque da "economia" na hora de prescrever o remédio, já que quem pagou por ele fui eu. Acho que a revolta maior no meu caso foi não existir o analgésico para esse caso aqui no Canadá, o que me fez passar dias me contorcendo de dor, sem conseguir dormir, por uma coisa simples. Vi um pessoal do Facebook também reclamando horrores, pessoas que têm dores crônicas, todas sem o remédio e tentando de todo jeito conseguir (comprando via Amazon e coisa do gênero).
Por coisitchas e situaçao semelhantes, tive que encomendar recentemente "uma rodada" de respexil, pois felizmente o que eu tinha trazido quando viemos já tinha vencido!
ResponderExcluirTai uma dor que nao desejo nem pro inimigo que nao tenho! rsrs
Bjocas
Erika
Olá Lu, obrigada pelo seu relato... De tempos em tempos também tenho UTI, mas não conhecia o Pyridium. Minha irmã está vindo e vou pedir uma atualizada na nossa farmacinha!!!
ResponderExcluirbj!
Eita... q perrengue hein Lu!
ResponderExcluirEu tenho uma enxaqueca companheira que todo mês vem passar uma semana comigo e que só passa com Cefalium... aqui no Brasil ele só é vendido com receita... nao sei nem se ele existe no Canadá, mas já sei q qdo for vou ter q levar Cefalium p/ um ano...rsrsrs
Bjs, Sa
Olá Lupatinadora!
ResponderExcluirOnde eu moro fica bem caro ir a médicos e as experiências que minha família teve foram péssimas. Então, podendo, evitamos ir.
Semana passada ao fazer xixi senti uma dor fortissima no fim. Eu nunca tive IU, mas pesquisando na internet vi que era isso. Comecei a tomar muita água e esperei. Nao sentia ardencia e sim dor. Começou a doer a lombar, eu fui ficando preocupada, já pensando em encarar os médicos horríveis. Aí na 4a acordei as 5h da manha com uma imensa vontade de fazer xixi, fui ao banheiro mas nao tinha quase nada de urina, deitei de novo e continuava com vontade, só que nao tinha xixi nenhum para fazer e a dor continuava como se eu estivesse super apertada segurando o xixi...
Aí no desespero comecei a tomar amoxicilina que tinha em casa. Eu trouxe esse antibiotico e azitromicina, pois tenho faringite cronica. Mas aqui nem preciso usar pq é bem quente e nao estou mais sofrendo com infeccao na faringe. Eu vi que nao era o mais indicado para IU, mas era o que tinha e resolvi tentar. Melhorou bem, mas ainda incomoda um pouco. Comprei também no Sam's Club cápsulas de cranberry, pois vi na internet que ajudavam a tratar.
Eu queria saber qual é o nome deste analgésico que vc vai comprar nos EUA, para eu procura-lo aqui.
Estou indo pro Brasil dia 19 e la vou ao medico fazer os exames, ver se a amoxicilina resolveu com o cranberry... e espero nunca mais ter isso, pois dói muito!
Ah, eu não vi na sua farmacinha, mas eu tive em junho uma virose, acho que foi retrovirus, e vomitei MUITO, sem parar. Ter trazido um Plasil foi ótimo pra mim!
Recomendo este também...
beijos e obrigada,
Carolina
Oi Carolina,
ResponderExcluirNão tenho seu e-mail pra responder. Infecção urinária precisa ser tratada corretamente pois se não pode subir para os rins e aí é desgraça. Acho arriscado você esperar pra fazer o exame só depois do dia 20, é muito tempo. Encha-se de coragem e vá ao médico (de preferência hospital, pois eles têm laboratório e fazem o exame na hora).
O remédio nos EUA chama-se AZO (http://www.amazon.com/Standard-Urinary-Pain-Relief-Tablets/dp/B0013HPED2/ref=sr_1_20?ie=UTF8&qid=1291512848&sr=8-20) que tem phenazopiyidine, que é o princípio ativo do pyridium. Mas de novo, não pode tomar esse remédio antes de fazer o exame pois ele altera o resultado - ele é apenas um analgésico, não cura a infecção.
Normalmente para UTI eles dão Bactrim - como eu não posso tomar Bactrim, me deram o Cipro 500mg.
Pelo o que conversei com o meu pai as cápsulas de cranberry são para prevenção a longo prazo - é que nem vitamina, é bom tomar mas não cura nada.
Se você morar nos EUA o AZO tem o teste (http://www.amazon.com/Strips-Kits3-detect-urinary-493189/dp/B000S55GEW/ref=sr_1_17?ie=UTF8&qid=1291512113&sr=8-17) mas como você começou a tomar antibiótico o melhor é ir ao médico, pois o fato de ter tomado o antibiótico também altera o resultado do exame.
Boa sorte!
Eu já ia levar minha famacinha antes do seu post por ter experiência nos EUA, mas depois de seu post não resta nem dúvidas...próxima vez não demore de ir ao médico...bjs
ResponderExcluirRealmente é bom estar preparado com a caixinha pronta e abastecida.
ResponderExcluirE a vida segue...
Oi .... Desculpe responder pelo seu blog, mas não achei um email seu para agradece-la pelas dicas que vc deixou em meu blog, gostaria de saber se posso fazer um link do meu blog para o seu quando vc escrever o texto sobre mudança.
ResponderExcluirOi Lu
ResponderExcluirNossa.. eu tb sou dessas q tem IU de tempos em tempos.. a sorte é q eu não sinto dor, só sinto urgência em urinar.
O pessoal dos aeroportos não implicam com muito remédio na bagagem?
Me diz uma coisa, se eu levar receita do Brasil, com o princípio atívo escrito em inglês, eles aceitam a receita no Canadá?
Eu tomo remédio de uso contínuo controlado, e não sei se conseguiria levar em grande quantidade.
Beijos
Dj
Você pode trazer seu estoque de remédio pra cá. Como meu pai é médico, fez receita pra tudo caso alguém enquencasse no aeroporto, mas não foi o caso.
ExcluirReceita aqui só é aceita de médico canadense. Meu marido também toma remédio controlado de uso contínuo, ele trouxe 3 meses de estoque e precisou arrumar um médico aqui rápido pra continuar pegando as receitas.